Haverá vida depois da internet?
Com este que é o seu primeiro romance, e que prenuncia uma carreira literária de grande fulgor no género, Patricia Lockwood foi finalista do Booker Prize, do Women’s Prize for Fiction e do Center for Fiction First Novel Prize de Nova Iorque nas edições do ano passado, vencendo, em 2022, o Dylan Thomas Prize, um dos mais prestigiantes prémios literários internacionais para jovens autores. Um dos melhores romances da literatura contemporânea - absolutamente atual, absolutamente original - Sobre Isto Ninguém Fala é um espelho em que nos vemos e um ponto de interrogação: haverá vida depois da internet?
Vídeos ridículos, memes delirantes, notícias falsas, fact-checking, comentários furiosos, opiniões sensatas, fotografias de gente feliz, atualidade política, gatos. Quando cruzamos a primeira página deste romance, a protagonista ganhou notoriedade devido aos seus posts numa rede social e viaja pelo mundo ao encontro de fãs apaixonados. Espaço virtual como espaço vital, sente-se totalmente absorvida pela nova linguagem e etiqueta daquilo que designa como «o portal» e debate-se com a convicção inabalável de que os seus pensamentos são agora ditados por um coro de vozes infinito.
Contudo, ameaças existenciais começam a ganhar forma - as alterações climáticas, a precariedade económica, a ascensão política de um «ditador» por nomear ou uma epidemia de solidão -, e ela e os seus posts lançam-se num salto cada vez mais fundo no vazio do portal: uma avalancha de imagens e palavras que se acumulam num ecrã pós-sentido, pós-ironia, pós-verdade, pós-seja-o-que-for.
De súbito, duas mensagens da mãe quebram o fluxo: «Tenho más notícias» e «Quão cedo podes vir para cá?» Quando a vida real e as suas exigências colidem com a índole cada vez mais bizarra do portal, esta mulher confronta um mundo que parece conter tanto uma abundância de provas de bondade, de empatia e de justiça, quanto uma torrente de indícios do contrário.
Com a forma curta e fragmentária do discurso online, Sobre Isto Ninguém Fala é ao mesmo tempo uma carta de amor ao scroll interminável e uma profunda e moderna meditação sobre o amor, a linguagem e as relações humanas, por uma nova e excecional voz da literatura americana.