Sobre livro:
A vida de Joana d’Arc é única. Uma mera criança, ignorante, iletrada, uma pobre aldeã desconhecida e sem influência, encontrou uma grande nação acorrentada, indefesa e sem esperança sob domínio alheio, o Tesouro falido, os soldados desalentados e dispersos, o espírito entorpecido, a coragem morta no coração do povo graças a longos anos de ultraje e de opressão estrangeira e interna, o seu rei intimidado, resignado ao destino e preparando-se para abandonar o país; e ela pousou a mão sobre esta nação, este cadáver, que se ergueu e a seguiu.
Levou-a de vitória em vitória, inverteu a maré da Guerra dos Cem Anos, estropiou fatalmente o poder inglês e recebeu o merecido título de «Libertadora de França». Quando resgatou o seu rei de uma vida dissoluta e lhe colocou a coroa na cabeça, recebeu recompensas e honras, mas recusou todas elas. Tudo o que estava disposta a aceitar – se o rei lho permitisse – era que a deixassem partir e regressar a casa na sua aldeia, cuidar novamente das ovelhas, sentir os braços da mãe à volta e viver para a servir e ajudar. O contraste entre Joana e o seu século – o mais brutal, o mais perverso, o mais podre da história – corresponde à diferença entre o dia e a noite.
Ela foi sincera quando mentir era o falar comum dos homens; foi honesta quando a honestidade se tornara uma virtude perdida; cumpriu as promessas quando não estas eram esperadas de ninguém; foi firme quando se desconhecia a estabilidade, e honrada num tempo que esquecera a honra; foi um rochedo de convicções numa época em que os homens não acreditavam em nada e zombavam de tudo; foi de uma coragem destemida quando a esperança e a coragem haviam perecido nos corações da sua nação.
Como recompensa, o rei de França, que ela coroara, deixou-se ficar indiferente, enquanto os padres franceses levavam a nobre criança, a mais inocente, a mais adorável de todas as eras, e a queimavam viva na fogueira.
Sobre autor:
Pseudónimo de Samuel Langhorne Clemens, escritor norte-americano nascido em 1835, na Florida. Quando tinha 4 anos a família mudou-se para Hannibal, na margem do Rio Mississípi. O pai de Twain morreu em 1847 e ele tornou-se aprendiz de impressor (1847-55). Entre 1853-54 viajou pelos diversos estados, trabalhando como impressor. Após uma breve viagem ao Brasil, tornou-se piloto fluvial no Mississípi (1857-61). Nessa época adotou o pseudónimo de Mark Twain, que na linguagem de verificação da profundidade dos rios significa "duas marcas" na sonda. Foi jornalista e conquistou a atenção do público com o conto The Celebrated Jumping Frog of Calaveras County, publicado em 1865 num jornal e depois editado em livro com outros ensaios (1867). Em 1867 Twain visitou a França, a Itália e a Palestina, recolhendo material para o seu livro The Innocents Abroad (1869), que estabeleceu a sua reputação de humorista. Twain casou em 1870 e fixou-se em Hartford, Connecticut. Dois anos depois publicou Roughing It, e em 1873 The Gilded Age. Em 1876 foi publicada a primeira das suas grandes obras, The Adventures of Tom Sawyer, romance baseado nas experiências da adolescência do autor no Rio Mississípi. No seu livro seguinte, A Tramp Abroad(1880) o autor revisitou a Europa, regressando ao seu território com Life on the Mississippi. A obra-prima da carreira literária de Twain, The Adventures of Huckleberry Finn, foi publicada em 1884. O livro, que à semelhança de Tom Sawyer parecia um livro para jovens, constituía na realidade uma fábula da América urbana e industrial que na época de Twain ameaçava o sonho de liberdade junto da natureza. Huck representava muitas das aspirações da sociedade americana, com as quais o público facilmente se identificou. O romance estabeleceu definitivamente Twain como um dos grandes humoristas da literatura mundial. Entretanto foram publicadas outras obras do autor: A Connecticut Yankee in King Arthur's Court (1889), The Tragedy of Pudd'nhead Wilson (1894) e Personal Recollections of Joan of Arc (1896). A década de 1890 foi marcada por dificuldades financeiras e nos últimos anos de vida o gosto de Twain pela caricatura burlesca deu lugar a um pessimismo satírico. A dimensão irónica do mundo e em particular do sonho americano revelaram a nova paisagem americana em toda a sua materialidade. Twain morreu em Abril de 1910. A sensibilidade do escritor, dividida na transição da América para a era industrial, influenciou particularmente William Dean Howells, amigo próximo de Twain.
Imprensa:
«A minha melhor obra e também a mais importante.»
Mark Twain