Deixo aqui aquilo a que assisti na SIC Notícias à pouco, durante o programa Cartaz Cultural, o qual passou entrevista ao autor Nicolai Lilin, autor da obra "Educação Siberiana" já oferecida aqui no blogue.
Estive à procura desta entrevista no website da SIC, mas encontrei outra fonte do grupo que tinha exactamente, aquilo que foi a entrevista e deixo aqui para vocês lerem:
'Educação Siberiana' conta as aventuras e tragédias de um adolescente numa comunidade de criminosos, os urca."Não gosto de demasiada bondade nas pessoas, não acredito nisso", afirma Nicolai Lilin, num tom afável e tranquilo. Quem olha este homem de 30 anos, cabelo rapado, mãos e braços cobertos de linhas negras, que contam, numa linguagem feita de símbolos indecifráveis, a sua passagem pelas ruas e pelos reformatórios violentos da Transnístria e pela Guerra da Chechénia, não pode deixar de se sentir intimidado. Porém, as sombras que povoam os seus olhos escuros nunca o fazem perder a amabilidade e a delicadeza. "A primeira coisa que aprendemos num meio violento é que a violência faz parte de nós. Ela está sempre onde tu estás. Saber disto, aceitar isto, faz-nos pessoas mais capazes de amar e respeitar os outros", diz, convicto.
A história dessa aprendizagem da sobrevivência e dos rígidos códigos morais e éticos dos urca é apenas o ponto de partida para o livro Educação Siberiana, que a editora Alfaguara traz agora para Portugal. O grande objectivo do escritor é fixar nesta obra a história dos seus antepassados: "A história do meu avô e destes homens e mulheres expulsos da sua terra não é uma história acabada, é uma lição de vida, que permanece em mim. O passado não é uma coisa para deitar fora, é lá que vamos buscar o essencial do que somos hoje."
Nicolai Lilin nasceu e cresceu dentro da comunidade dos urca siberianos que, nos anos 30, foram deportados por Estaline para a Transnístria, uma região remota na fronteira com a Moldávia, que recebeu também arménios, cossacos, inimigos do regime comunista, doentes mentais. Bender, a cidade natal de Lilin, foi, durante muitos anos, um caldo explosivo de culturas, onde sobreviver era a primeira e a mais importante das aprendizagens.
Aos seis anos, o escritor recebeu a primeira faca, mas em sua casa já havia muitas armas, "que eram guardadas junto aos ícones religiosos e todas elas tinham um nome. As armas são como pessoas, merecem o mesmo respeito", conta.
Este livro "não é autobiográfico", mas é uma colecção de experiências vividas por Lilin ou por pessoas próximas. "É a minha história, não inventei nada, não sei inventar. O meu livro teve sucesso, mas isso não faz de mim um escritor." Esse nome é para aqueles que lê e admira, como Saramago ou Bulgakov.
A viver em Itália há alguns anos, trocou as tatuagens pela escrita. Da sua comunidade, diz apenas "que se foi espalhando pelo mundo" e a ele restam-lhe apenas as memórias de uma educação "para a vida", as quais ele continua a contar no livro seguinte: Queda Livre.
Podem consultar mais sobre o livro aqui: "Educação Siberiana" de Nicolai Lilin